O livro traz, com simplicidade e leveza, o que o título enuncia: O perigo da história única. A leitura é rápida e fluida, no entanto, apesar de breve, vai deixando impressões naquela/naquele que lê, a qual/o qual não passa despercebida pela sabedoria contida em suas páginas.
O texto é uma adaptação da primeira fala da escritora Chimamanda Ngozi Adichie no TED Talk. O discurso foi proferido em 2009 e em 2019 O perigo da história única ganha sua primeira edição.
A partir do compartir de algumas de suas vivências e compreensões, como nigeriana de classe média que se muda para os Estados Unidos aos 19 anos, a autora africana nos alerta e conscientiza do perigo que é se ater a apenas uma narrativa da realidade:
“A história única cria esteriótipos, e o problema com os esteriótipos não é que sejam mentira, mas que são incompletos. Eles fazem com que uma história se torne uma única história” (p.26).
A história única “rouba a dignidade das pessoas. Torna difícil o reconhecimento da nossa humanidade em comum” (p.27).
A autora acentua, ainda, a relação das narrativas limitadas e limitantes com o poder. De modo que é sempre importante a atenção, quando se fala de histórias, de como elas são contadas, quem as conta, quando e quantas vezes… E isso vale para as histórias de um povo, um país, um grupo, um coletivo, mas por que não também para as histórias de si?
Afinal, poder contar de si é um modo não só de se apropriar de suas próprias narrativas, mas também de reconstruí-las, de construir histórias outras, de gerar rupturas. Sobre suas próprias a autora diz e nos ensina:
“Todas essas histórias me fazem quem eu sou. Mas insistir só nas histórias negativas é simplificar minha experiência e não olhar para muitas outras história que me formaram (…), existem muitas outras histórias que não são sobre catástrofe e é muito importante, igualmente importante, falar sobre elas” (p. 26-27).
O perigo da história única pode nos levar a discutir e pensar questões relacionadas ao preconceito, ao poder, à dignidade… e o faz com uma suavidade gostosa de acompanhar, traz vida, como a autora acertadamente faz questão em frisar:
“quando rejeitamos a história única, quando percebemos que nunca existe uma história única sobre lugar nenhum, reavemos uma espécie de paraíso” (p.33).
Aprendamos pois.
Referência:
Adichie, C. N. (2019). O perigo da história única. Tradução: Júlia Romeo. São Paulo: Companhia das Letras.