Dentro do modelo de sociedade onde estamos inseridos ainda é comum observarmos a experienciação da terceira idade como sendo o começo do fim. Não somente pela crença ocidental de que o idoso está no fim da vida, mas também porque assimilamos ao processo de envelhecimento uma sucessão de perdas físicas, biológicas, afetivas e psicológicas.
Ao contrário dessa perspectiva, também podemos encontrar uma parcela da população que atribui ao idoso sabedoria, maturidade e discernimento, como se dentro do espectro da vida na terceira idade existissem apenas dois lados opostos de encaixe onde os sujeitos precisam estar.
É recorrente que a falta de aproximação com o que é o envelhecimento e o que ele representa, verdadeiramente, na vida das pessoas nos leve a uma patologização exacerbada onde a única estratégia de cuidado -ou a principal- é psicofarmacológica quando se tratando de processos de adoecimento psíquico, segundo Helder Rabelo (2007).
Enquanto profissionais da saúde psicológica, cuidadores, família e, até mesmo, idosos, é importante assumir como uma estratégia de cuidado a valorização da narrativa de vida do sujeito. Quando assimilamos que a vida afetiva do idoso já encontra-se em estágio de finitude, contribuímos também para que o sujeito torne-se obsoleto mesmo dentro da sua própria visão de mundo.
Os estudos ocidentais sobre o envelhecimento tem se tornado mais comuns e isso mostra que o aumento da longevidade das pessoas tem direcionado a sociedade à pensar sobre o bem-estar do idoso. Esse é um caminho lento, mas que de algum modo já começa a desinstitucionalizar a visão do “fim da vida”, onde as pessoas recebiam atenção paliativa e a cada ano à mais de vida, a desvalorização do sujeito era mais escancarada.
Dar um espaço terapêutico aos idosos é também dar um espaço de escuta e acolhimento, de valorização da vida e de importância social. Dentro da perspectiva do cuidado, contribuir para a criação de vínculos e fortalecer a autonomia dos sujeitos é uma forma de atenção e de transformação de narrativa que leva o envelhecimento à uma nova perspectiva de reconhecimento.
REFERÊNCIAS:
REBELO, Helder.Psicoterapia na idade adulta avançada. Aná. Psicológica [online]. 2007, vol.25, n.4, pp.543-557. ISSN 0870-8231.OLIVEIRA, Érika Arantes de; PASIAN, Sonia Regina and JACQUEMIN, André.A vivência afetiva em idosos. Psicol. cienc. prof.[online]. 2001, vol.21, n.1, pp.68-83. ISSN 1414-9893. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932001000100008. |